Da Mantiqueira

Foi com sorriso que você me veio, com jeitos de veraneio e moradia em peito de papelão, papel de pão e muito espaço pra acontecer. Desses que se molham com chuva cor-de-parque, na tarde...  e não reparte os abraços vestidos na multidão.

Aconteceu que desse jeito, o meu caminho é a leveza que meus dias me contam, das histórias que meus ouvidos encontram sob as pedras da memória e eu, meu bem, só vou leve porque já disse e digo mais: toda leveza é uma bagagem saborosa que nos mantem no chão, mas nem tanto. Nos mantém livres e vento. Porque o bom da vida não acontece com lamento e esse, é só o nosso feitiço contra o tempo.

Largue então os prantos que venha a ter, os desajustes diários e deixe as vestes reluzirem a luz de todas as esquinas, as paisagens e a estrada que só se curvam para se tocarem breve. Liberte as dúvidas e o esquecimento e supere as desavenças porque no fim, todo sim é um mundaréu de possibilidades que balançam brandas em suas varandas de águas claras. Chuva branca que se deita em redes de ninar as noites e amanhãs... como quem de férias constrói sonhos, tijolo por tijolo... e empilha muita semente pra germinar no pé da Serra da Mantiqueira.

Bem me queira esse paraíso, também, como tu.

Te levo então, a viola que os passos batucam, no meio fio da sua sarjeta colorida, de terra batida e fruta do pé, de mãos como conchas, colhendo os dias de quem espera a vida com total atenção e tanta dedicação assim, haverá de existir a frente, aquele remanso, um rancho pra alma e saudades, adormecer de instantes, do corpo resguardar o berro, o berrante e espero de todos os meninos que te viram passar e acreditaram em você, principalmente o seu.

Eu acredito, também. E vou além, porque de bem e do bom, todo vento é som que encanta quem souber ouvir. É que eu aprendi o tom exato de chamar teu nome e quando da vista o horizonte some, teu cheiro me orienta.

Alcanço teus sonhos salvos mansos sob a cabana, por trás desses vitrais que brilham um arrebol, um sol castanho-cor-de-cana.

Só digo uma coisa, menino: Eu não sou você mas, você é igual a mim.
Que sorte a minha e a sua, também.
Te intenciono só o melhor e o bonito... ou qualquer-coisa-assim.

Te aceno na curva, te deixo seguir. Teu gargalhar no caminho  das minhas pálpebras abertas é realmente o que fica, quando você já dormiu.


│Samara Bassi - escrito em março/2022

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